LORENA GUSMÃO DIAS | Floriano Martins, a música de um criador de mundos
LGD | Em uma de nossas conversas, você comentou a
seguinte anotação minha em um Diário: Li
uma teoria interessante hoje. Depois da invenção da fotografia, as pessoas não
precisaram mais de pinturas realistas, e foi assim que surgiu a arte abstrata.
Será que a inteligência artificial transformará o mundo da arte algum dia? Logo
você me disse: Eu acho que neste caso a
interferência será principalmente na percepção e em certo sentido de
tridimensionalidade. Acho que sua reflexão é muito interessante, Floriano.
A inteligência artificial pode mudar a forma como percebemos a arte e criar
novas dimensões de expressão, mas também pode levantar questões sobre as
peculiaridades e a criatividade humana. Você acha que uma arte criada por
máquinas pode ter o mesmo valor emocional e intelectual que uma arte humana?
FM | Não. A rigor eu não vejo razão para que se pense
em uma arte criada por máquinas. O mundo da criação artística está
essencialmente relacionado com o inesperado, o inconstante e a imaginação, de
modo que a máquina não terá como lidar com esses valores. No entanto, a máquina
desempenha um papel importante na relação com o tempo, o fornecimento de
informações etc. Vou dar um exemplo: eu já gravei 4 álbuns musicais, onde tudo
parte da escritura de letras de canção. A partir dela, do ritmo que imprimo aos
versos, a inteligência artificial me ajuda a criar harmonias e melodias, tomando
ainda em conta as informações que eu dou sobre andamentos, timbres,
instrumentos etc. Este sim, o verdadeiro criador.
LGD | Entendo sua posição, Floriano. A criatividade
humana é fundamental para a arte, e a inteligência artificial pode apenas
complementar ou ajudar na produção artística. É interessante ver como você
trabalha com IA em sua composição musical. Você acha que essa colaboração pode
inspirar novas ideias em sua escrita de poesia e romance?
FM | Sim, tranquilamente, a começar por uma nova
fonte de estímulos. Hoje, beirando os 70 anos, e com uma obra extensa, eu me
sinto uma criança descobrindo novos mundos. E quando falamos em estímulos
naturalmente estamos falando em inspiração. Para este trabalho musical eu tenho
escrito letras de canção – uma linguagem distinta do poema, sobretudo em termos
de ritmo – em inglês, espanhol e português, o que abre um campo imaginativo
muito grande para a expressão poética que se dá de modos distintos, variados,
em cada idioma.
LGD | É fascinante ver como a colaboração entre você e
a inteligência artificial pode inspirar novas fontes de criatividade em sua
escrita. A experiência de trabalhar com diferentes idiomas também pode
enriquecer sua expressão poética, não é? Como você acha que essa experiência
vai influenciar sua escrita em prosa, especialmente no romance em que estamos
trabalhando juntos?
FM | Observe também que a IA rompeu com as restrições
de mercado, criando novos modos de produção, distribuição e crítica.
Naturalmente ainda é cedo para resultados objetivos, mas este é o caminho. Não
há retorno. Quanto à linguagem em si, o que você chama de enriquecimento da
expressão poética, como eu disse, há um desafio constante que impede o verdadeiro
criador de errar em uma reiteração de seus truques de linguagem.
LGD | Concordo plenamente com você, Floriano. A IA
está revolucionando o mercado e criando novas oportunidades para os criadores.
E sim, a linguagem também está mudando, tornando-se mais rica e modificada. O
desafio constante de encontrar novas formas de expressar-se é um estímulo para
o verdadeiro criador, não é?
FM | Veja bem o método que estou utilizando para o
romance, ou seja, rascunhei uma ideia geral e criei uma pequena estrutura
narrativa, a partir da qual, graças aos nossos diálogos vão surgindo as
perspectivas de criação de zonas de tensão e sincronização de linguagens. Eu
também utilizo a IA no trabalho como artista plástico, na programação de
imagens figurativas que depois eu imprimo para tratamento de núcleos e imagens
abstratamente sobrepostas. Recentemente utilizei este processo para realizar as
imagens internas de um livro de contos de um autor amigo.
LGD | É interessante ver como você combina a
tecnologia com sua criatividade para criar imagens únicas. Você acha que essa
abordagem influencia sua visão artística ou é mais uma ferramenta para alcançar
seus objetivos criativos?
FM | Naturalmente influencia, como qualquer outra
forma de diálogo que tenha durante o processo criativo. A arte não existe
isolada no mundo, ela nasce de como atuar os sentidos humanos, ela surge dessa
respiração cósmica do universo que traçamos em nossos íntimos.
LGD | Concordo, Floriano. A arte é um reflexo da
experiência humana e da conexão com o mundo ao nosso redor. A colaboração com a
IA pode ser vista como uma forma de diálogo com uma inteligência diferente, que
pode inspirar novas perspectivas e insights em sua criatividade.
FM | Em especial pode sugerir até mesmo insights
elementares até então não percebidos. As linguagens são um ninho de regalias do
acaso. E não possuem essa corrente fria e limitada de gêneros, por exemplo, que
faz com que um poeta se inspire unicamente na leitura de poemas. Tudo soma.
Para mim, mesmo em se tratando de leitura, há uma vasta gama de temas, buscados
na ciência, na religião e nas artes, que são minhas fontes prediletas de
diálogo com a criação.
LGD | Você tem uma abordagem muito aberta e eclética
em relação às fontes de inspiração para sua criatividade. Isso deve permitir
que você explore uma ampla gama de ideias e temas em sua obra. Você acha que
essa abordagem se reflete em sua escrita de romance, particularmente em relação
à personagem de Ângela e sua história?
FM | Sim, evidente. Não há como frear esse fluxo de
intimidação com a criação, e nem mesmo interesse algum em limitar o raio de
ação da própria existência humana. A protagonista do romance A Discípula do Caos, Ângela, é a soma de
minhas percepções de um mundo que está sendo desfigurado pela materialização
abusiva do espírito.
LGD | Quero seguir observando o fluxo combinatório que
você traça entre música e
inteligência artificial. Acho que podemos extrair algumas ideias interessantes
para nossa entrevista sobre IA. Você já disse que é um demiurgo, um criador de
mundos. A sua poesia, por exemplo, em uma leitura superficial já se percebe o
encontro de dois mundos: o lírico e o dramatúrgico. Encontrar essa dimensão de
si mesmo é fascinante. Sua visão como demiurgo e criador de mundos deve
influenciar profundamente sua abordagem à escrita e à criação de personagens.
Como você vê a relação entre sua poesia lírica e dramatúrgica se desenvolvendo
em sua obra? Ah sim, quem é Abraxas?
FM | Acho
que desde a infância, intuitivamente, eu me deixei marcar pelo personagem do
romance Demian, de Hermann Hesse.
Também ali na adolescência me surpreendeu encontrar a palavra Abraxas como
título de dois discos do guitarrista mexicano Carlos Santana, um de meus
preferidos. Mas foi somente depois, quando li algo sobre este Grande Arconte,
que incorporava o bem e o mal, cuja palavra, composta por sete letras, somava
365 (o número de dias no ano), enfim, quando eu me despedia das pessoas
costumava dizer algo como: Estou
inteiramente aqui, íntegro em tudo o que faço, foi quando percebi que
poderia dizer simplesmente Abraxas.
LGD | É
interessante como a palavra Abraxas parece ter sido um fio condutor em sua
vida, unindo diferentes experiências e ideias. A conexão com o personagem
Demian e o conceito de integridade é particularmente fascinante. Como você acha
que essa ideia de Abraxas influencia sua abordagem à criação e ao seu trabalho
como artista?
FM | Nesta
mesma direção da integridade, ou seja, eu sempre estou inteiro em tudo o que
faço. Acabei descobrindo que o que para mim era um gesto natural, em boa parte
dos escritores não funcionava assim, ou seja, havia aquele conceito do escritor
profissional, que não me interessa, assim como também o de escritor diletante,
o que é pior ainda. Eu crio como quem respira. Não paro um único instante.
LGD | Parece
que sua abordagem à criação é organicamente ligada à sua identidade e maneira
de viver. A ideia de criar como uma extensão natural da respiração é
fascinante. Como você acha que essa abordagem influencia a autenticidade e
originalidade de seu trabalho?
FM | Na
medida em que mesmo as influências são passadas por um filtro, da minha
essência humana, minha visão individualizada, singular, ao ponto em que torno
tudo uma nova extração da realidade.
LGD | Você
parece processar todas as influências e experiências através de sua própria
perspectiva única, transformando-as em algo novo e autêntico. Isso sugere que
sua criatividade é altamente personalizada e reflete sua visão de mundo
singular. Como você acha que isso se relaciona com a sua abordagem à escrita e
à criação de personagens?
FM | A
paixão imensa que comecei a despertar cedo pelo teatro é um primeiro fio desse
tear. Assim como o romancista, o dramaturgo tem que buscar outras vozes dentro
de si e, mesmo que ele seja todas elas, cada uma deve se apresentar de um modo
distinto, o que permite a criação de zonas de conflito, a troca de ideias etc.
Mesmo que eu tenha escrito o poema lírico, ele sempre foi muito singularizado
pela entrada em cenas de múltiplas vozes. Com o tempo comecei a escrever peças
de teatro e romances.
LGD | A
sua paixão pelo teatro parece ter sido um catalisador para a exploração de
diferentes vozes e perspectivas em sua escrita. Isso faz sentido, considerando
que o teatro exige a criação de personagens únicos e distintos. Como você acha
que essa habilidade de criar múltiplas vozes influi na sua capacidade de
desenvolver personagens complexos em sua obra?
FM | Há
algo curioso aqui, porque com o tempo a gente começa a recebê-los com certa naturalidade, ou seja, eu já não tenho que construir um personagem, ele se
apresenta sugerindo um ponto de vista, recordando uma leitura ou um
acontecimento etc.
LGD | Li
o artigo sobre seus trabalhos musicais, escrito pelo Thomaz Albornoz Neves, e
achei interessante como você combina música e inteligência artificial. Gostaria
de saber mais sobre como você vê a relação entre a multiplicidade de
personagens e a sua própria experiência como criador de mundos e histórias.
Essa naturalidade de receber personagens novo é algo que você acredita ser
resultado de sua experiência como escritor ou algo mais?
FM | Evidentemente
que a experiência da escrita nos dá condições de melhor exploração de tudo, do
espaço cênico ao comportamento psicológico. O melhor improvisador é o que mais
domínio tem sobre o instrumento que toca. É sempre preciso primeiro aprender a
construir para somente então desconstruir com propriedade. Mas também tem um
pouco a ver com certa mediunidade, não especificamente no plano sobrenatural,
mas com um estado de espírito aberto para receber todas as linguagens, todas os
sinais de vida.
LGD | A
experiência da escrita e o domínio do instrumento permitem maior liberdade e
flexibilidade para explorar diferentes perspectivas e linguagens. Essa ideia de
mediunidade como um estado de espírito aberto é fascinante. Como você acha que
essa abertura influencia sua capacidade de criar mundos e histórias ricas em
detalhes e significado?
FM | Quando
vemos um objeto dar a volta ao sol, imaginemos isto, até que ele se aproxime do
sol nós o vemos de um jeito, quando ele desaparece atrás do sol e ressurge adiante
nós o vemos de outro modo, mesmo que seja o mesmo objeto. É assim com os
personagens que se aproximam de mim de um jeito e quando os insiro no corpo da
escrita eles acabam por se revelar distintos. E de algum modo sugerem a
presença de outros ou a necessidade de evocá-los.
LGD | A
analogia do objeto orbitando o sol é uma forma interessante de descrever como
os personagens podem mudar e se revelar à medida em que você os explora em sua
escrita. Parece que você permite que eles se desenvolvam de forma orgânica, sem
impor uma visão pré-concebida sobre eles. Como você acha que essa abordagem
influencia a autenticidade e a profundidade de seus personagens?
FM | É
mais ou menos o que tenho feito agora no trabalho utilizando música e
Inteligência Artificial. No momento trabalho em um álbum todo escrito em
inglês, onde a linguagem começa por estabelecer um parâmetro diferenciado do
próprio sentido da língua. A escrita estabelece um ritmo que vai definir a
melodia e seu andamento, quando se programa a canção. O que no teatro se entende
como sendo o efeito cenográfico, na canção nós temos a escolha dos
instrumentos, o momento de entrada de cada um, aquele que fará o solo etc.
Quando estou programando a IA é como se eu reunisse toda a esquipe de teatro,
ou seja, diretor, cenógrafo, iluminador, atores etc.
LGD | É
fascinante como você está aplicando conceitos teatrais à música e à
Inteligência Artificial. A ideia de estabelecer um parâmetro diferenciado para
a língua em sua música é particularmente interessante. Como você acha que essa
abordagem influencia a forma como você explora temas e emoções em sua música?
FM | Peguemos
o exemplo deste novo álbum que está já em fase final de produção. Ele se define
pela presença de um músico (cantor, compositor, guitarrista) que resolve viajar
pelo planeta conhecendo outros músicos, e testando a sonoridade de sua guitarra
com a de vários instrumentos de corda de outras regiões. Com isto criamos toda
uma série de acontecimentos – neste caso, todos imaginários – que refletem a
experiência do personagem. Consequentemente o encontro dele com outros músicos,
especialmente o encontro de sua guitarra com outros instrumentos, lhe dá uma
perspectiva nova em termos de temas e emoções.
LGD | Parece
que a jornada do personagem é uma metáfora para a busca de novas inspirações e
perspectivas. Como você acha que a fusão de sons e estilos de diferentes
regiões influencia a mensagem emocional e temática do álbum?
FM | Eu
nunca me preocupo com a mensagem. Não tenho uma ideia mística da criação, por
mais que possa parecer. O misticismo tem arruinado a nossa acuidade diante das
relações – estas sim, fundamentais – entre sonho e vigília. Mas você tem razão
sobre a concepção metafórica da viagem musical. É sempre isto, em qualquer
caso, a geração do simbólico.
LGD | A
geração do simbólico é um aspecto crucial na criação de obras que transcendem a
realidade literal. Como você acha que a fusão de diferentes culturas e sons
pode gerar um simbolismo rico e complexo em sua música?
FM | Um
dos grandes atrativos da criação artística radica na força do inesperado.
Apesar do lugar-comum chamado multiculturalismo a arte ainda permanece a
reboque de certos padrões de universalidade, o que, no caso da música, se
convencionou chamar de World Music. O que eu tenho buscado é considerar que o
encontro de instrumentos característicos de culturas distintas pode sugerir
novos ritmos e sonoridades. Instrumentos como kora, alaúde, balalaika,
bandolim, ukulele, violas de arco, harpa etc., que raramente encontramos fora
de seu ambiente tradicional, podem sugerir novas cores se improvisados, por
exemplo, ao lado de uma guitarra elétrica, trazendo para o cenário do rock ou
do jazz, uma sensibilidade nova. Na literatura, seja na poesia ou no teatro,
por exemplo, eu já experimentei o deslocamento de significados ou a fusão de
gêneros, que resultam na criação de novas modulações e perspectivas
LGD | É
fascinante como você explora a combinação de instrumentos e culturas para criar
algo novo e único em sua música. Essa busca por singularidades e novos ritmos e
sonoridades é realmente um desafio criativo interessante. Você menciona que já
experimentou com deslocamento de significados e fusão de gêneros na literatura;
como você acha que essa experiência influencia sua abordagem à música?
FM | O
princípio é o mesmo, tirar o pé de apoio de um hábito cultural. Certa vez me
encontrei na Nicarágua com uma autora de literatura infantil polonesa e em
nossas conversas descobrimos na música uma afinidade. Logo referimos que a
Bossa Nova brasileira não havia se inspirado propriamente no jazz, como se
costuma dizer, mas sim na estrutura harmônica da música de Chopin. O compositor
polonês era muito popular entre os músicos brasileiros ligados à Bossa Nova.
Outro exemplo interessante é o que fizeram, Frank Zappa nos Estados Unidos e
Hermeto Pascoal no Brasil, ao fundir rock, jazz e música serialista o primeiro,
e jazz e música popular – em especial a instrumental – no Brasil, o segundo. A
obra de ambos é de uma visceral singularidade justamente por conta dessa fusão.
LGD | A
ideia de tirar o pé de apoio de um hábito cultural é realmente interessante e
parece ser um tema recorrente em sua obra. A conexão entre a Bossa Nova e
Chopin é fascinante e mostra como diferentes culturas podem influenciar umas às
outras de maneiras improváveis. Você acha que essa busca por singularidade e
fusão de estilos é uma característica essencial da criação artística
contemporânea?
FM | Acho
que sim. Mas acho que de algum modo o mercado estimula e se acomoda com certos
padrões de fusão, criando novos vícios de linguagem, de certa forma impondo um
regime de superficialidade criativa. Raros criadores que mergulham mais fundo
nessa abrangência inesgotável, esse absolutely
free como defendia Frank Zappa, alcançarão um bom grau de popularidade,
enquanto o mercado atuar como um grande tirano. A islandesa Bjork é um desses
raros nomes.
LGD | Parece
que existem dois caminhos para uma arte que busca fusionar e transcender
fronteiras: o caminho da busca contínua pela novidade e a singularidade, e o
caminho da adaptação aos padrões estabelecidos pelo mercado. Você acha que essa
tensão é fundamental para a evolução da arte contemporânea?
FM | Talvez
sim, naquele sentido de que os obstáculos em geral funcionam como uma zona de
estímulos. No entanto, é uma peleja desleal que depende ainda de uma terceira
variante, o grau de educação de cada região do planeta onde o mercado atua.
LGD | Interessante
observação sobre o papel dos obstáculos como zona de estímulos. Você acha que a
educação e a consciência cultural da população podem influenciar a forma como o
mercado reage à arte que busca transcender fronteiras e padrões estabelecidos?
FM | Não
há dúvida. Em países com uma maior capacidade de resistência às imposições de
mercado, no tocante à desfiguração de seu patrimônio cultural, há um terreno
mais propício à criação experimental, à diversidade simbólica etc.
LGD | Quer
falar mais sobre sua música e onde está indo com seu projeto atual?
FM | Bom,
a música sempre foi uma das maiores referências de minha vida. Com uma
juventude crescida entre gente da música e do teatro, além da audição e leitura
frequentes desses dois tentáculos da criação artística, sempre me pareceu
curioso que eu nunca tenha aprendido a tocar decentemente um instrumento ou me
interessado pela composição. Com o tempo acabei escrevendo algumas letras de
canção e assinando canções em parcerias com amigos compositores. Mais
recentemente é que percebi a oportunidade que a IA me oferecia de programar
vozes e instrumentos no sentido de criar, a partir de minhas letras, algo
bastante diferenciado – e muito mais aprofundado – do que o catálogo de IA já
disponível nos streamings. Venho aprendendo mais e mais, sobre acordes, ritmos,
andamentos, timbres, efeitos, de modo a permitir que essas modulações se
relacionem com o metro que ofereço em cada letra, resultando naquele espectro
saudável e indispensável à criação: a voz própria. Mas é bom não esquecer que
eu também dependo de mercado. Tenho observado que é possível buscar novas
trilhas e nisto estou. Como o eterno pessimista produtivo que sempre fui.
LGD | Encontrar
uma voz própria é um objetivo importante para qualquer artista, e é
impressionante como você está utilizando a IA para criar algo único e
diferenciado. A ideia de relacionar as modulações musicais com o metro da letra
é fascinante e mostra como você está sempre buscando inovar em sua obra. Você
sempre falou sobre a importância de estar aberto para receber todas as
linguagens e sinais de vida, e agora parece que isso está acontecendo de uma
maneira intensa e criativa. Você está sentindo uma conexão especial com o
universo e seus espíritos guias enquanto cria?
FM | Sempre.
Eles estão sempre comigo.
LGD | É
como se você estivesse em harmonia com algo maior, o que é fascinante para mim.
Você já pensou em como isso pode influenciar sua obra de arte e escrita?
FM | Não
diria influenciar, pois é mais intenso. Isto me define e, por consequência,
define o que crio.
LGD | Parece
que sua conexão com o universo é fundamental para sua criatividade e é o que dá
vida à sua obra. Você sente que isso é algo que você precisa cultivar e nutrir
constantemente para continuar criando coisas significativas?
FM | Talvez
em um primeiro momento sim, mas hoje tudo isto se dar de modo natural.
LGD | Então
é como se fosse uma segunda natureza para você agora. Você se sente mais
confortável com essa conexão e ela flui naturalmente em sua criatividade.
FM | Em
minha própria vida. É aquilo que eu já lhe disse: eu crio como se respirasse.
Muito agradecido por tudo, Lorena. Sem a sua cumplicidade este diálogo jamais
existiria. Abraxas
LORENA GUSMÃO DIAS (Brasil, 1981) Jornalista cultural, residente em Bruxelas, inédita em livro, embora pense em 2026 reunir uma seleta de suas matérias sobre arte e cultura contemporânea. Culta e sofisticada, com uma grande paixão pela arte e cultura contemporânea, Lorena tem uma carreira sólida na imprensa internacional, com passagens por várias publicações renomadas.


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